Manifesto pelo Trabalho temporário: um motor de empregabilidade

No mercado de trabalho, várias empresas procuram serviços ocasionais. Perceba como funciona o trabalho temporário em Portugal.

Vivemos um contexto pautado por alguma incerteza e instabilidade, com a inflação ainda elevada. Todavia, o desemprego mantém-se baixo, sendo que o mercado acusa uma alta escassez de mão de obra em muitas áreas. Como se isso não bastasse, cada vez mais temos, num só ano, vários ciclos económicos. Em cenários como este, como seria se não existisse o trabalho temporário?

Quem lança a pergunta é Thomas Marra, Country General Manager para Portugal da Gi Group Holding. E o próprio antevê o cenário: “Teríamos de usar outros contratos ou o chamado black work, caso dos recibos verdes, nos quais os trabalhadores não gozam de plenos direitos”. Por isso, não tem dúvidas de que precisamos de soluções para garantir os direitos de todos.

É o que acontece no caso do trabalho temporário. Na verdade, as empresas de trabalho temporário devem ser o garante de que o trabalhador vai ter as mesmas condições e receber o mesmo que receberia trabalhando diretamente para uma entidade.

Mas será que o trabalho temporário é encarado como uma solução para as empresas e para os trabalhadores? Como explica Paula Falé, Diretora de Corporate Sales da Gi Group Holding, há um contexto histórico de conotação negativa do trabalho temporário, muitas vezes associado a precariedade. No entanto, este traz grandes mais-valias para a sociedade, tanto para os trabalhadores como para as organizações.

Uma ferramenta para várias gerações

As vantagens do trabalho temporário em Portugal são cada vez mais evidentes e valorizadas pelas novas gerações. Ter um emprego para a vida é algo que não atrai os mais jovens. Procuram, sim, ter bem definidos as tarefas e os projetos. Além disso, avaliam as mais-valias de cada projeto, o que podem aprender, se há flexibilidade laboral, que equilíbrio conseguem ter entre a vida pessoal e a vida familiar (o chamado work-life balance).

E a verdade é que os testemunhos são positivos, constata Nuno Cochicho, Business Director da Gi Group. “Através do trabalho temporário, contactam com realidades muito diferentes, testam várias áreas sem ter de tomar uma decisão vinculativa, ganham experiência. É através desta modalidade que muitos jovens têm um primeiro contacto com o mercado de trabalho e ganham maturidade.”

A mesma ideia é reforçada por Paula Falé. “A mentalidade mudou e o facto de estar efetivo numa empresa pode não ser um bom emprego”, observa. Salienta ainda que o trabalho temporário é uma opção muito válida para várias pessoas, não só para os mais jovens. “Esta é uma resposta interessante para as novas gerações. Mas também para as gerações que enfrentam maiores dificuldades de reintegração.”

Pode ser um jovem que começa o seu percurso e está a descobrir o que quer fazer e onde quer estar. No entanto, é possível encontrar pessoas que procuram um projeto para um período curto de tempo. Ou, igualmente, alguém que, aos 50 anos, após um despedimento, precisa de reentrar no mercado de trabalho, nem que para isso tenha de fazer um processo de reconversão profissional.

Uma boa solução para muitas empresas

O trabalho temporário abre novas portas e oportunidades não só para os trabalhadores, mas também para as empresas. Com a instabilidade atual e as necessidades do mercado de trabalho relativamente a mão de obra pontual e sazonal, é importante que as entidades consigam garantir alguma flexibilidade.

Nestas situações, o trabalho temporário é um recurso ao qual as entidades podem recorrer, mesmo quando estão em causa recrutamentos especializados. E não se trata de um recurso exclusivo de alguns setores, como a hotelaria, a agricultura ou a construção civil. Áreas como a saúde, a indústria, o retalho ou a logística, por exemplo, recorrem cada vez mais a este regime para responder com maior elasticidade às suas necessidades, garantindo um trabalho digno e de plenas condições.

Na verdade, os trabalhadores recrutados por meio de um regime temporário acabam por ser considerados como um dos trabalhadores dos quadros. Têm a mesma receção, a mesma formação e são incluídos nas dinâmicas da organização (festas, prémios, etc.). “Isso é cada vez mais comum. As empresas querem contar com estes trabalhadores para o futuro”, destaca Paula Falé.

O que é o trabalho temporário e como funciona?

O trabalho temporário é uma relação profissional com carácter transitório. No regime de trabalho temporário, há um acordo triangular: num vértice está o trabalhador, no outro a empresa-cliente e no terceiro vértice a empresa de trabalho temporário, que paga o salário ao trabalhador, bem como os encargos associados ao seu trabalho. Na base desta relação está um contrato de trabalho temporário, que garante todas as condições.

Já entre a empresa de trabalho temporário e a empresa-cliente, é assinado um contrato e a esta é emitida uma fatura cujo valor inclui o salário, os subsídios de férias e de Natal, juntamente com a margem do serviço.

Desta forma, através do trabalho temporário, os trabalhadores encontram uma entidade com um serviço gratuito para elas, garantindo Segurança Social, Seguro de Acidentes de Trabalho, formação e remuneração. Tudo igual a um funcionário interno. E desengane-se quem pensa que as empresas de trabalho temporário pagam valores abaixo do mercado. São obrigadas a pagar salários idênticos aos que são pagos pelas empresas que contratam os serviços.

O futuro do trabalho temporário

Neste contexto, salienta Thomas Marra, os trabalhadores devem encarar a empresa de trabalho temporário como um partner que os acompanha ao longo da carreira profissional. Servem como uma segurança e uma garantia dos direitos dos trabalhadores temporários, além de que pagam sempre. Tanto mais que, se houver um dia em que não paguem, podem perder o alvará.

Assim, as empresas de trabalho temporário funcionam como um advisor: defendem os interesses dos trabalhadores, negoceiam o trabalho e fornecem aconselhamento relativamente às escolhas estratégicas e à formação que é necessário fazer. Sendo donos desta informação, devem orientar os candidatos e ajudar a alinhar os seus skills com o que o mercado pede, de modo que sejam cada vez mais “empregáveis”.

Bem regulado, revela-se, pois, benéfico para todos. É uma solução em várias fases da carreira dos profissionais, as organizações ganham flexibilidade e até o Estado beneficia porque cria emprego, reduzindo os valores gastos com subsídio de desemprego e aumentando a receita da Segurança Social.

Por estes motivos, Thomas Marra afirma que chegou à altura de por de lado todos os estigmas e de criar um verdadeiro manifesto pelo trabalho temporário, mostrando como é útil e como pode ser cada vez mais útil à sociedade, do blue collar até ao top manager.

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