Precisa-se de trabalhadores estrangeiros em Portugal
A presença de trabalhadores estrangeiros em Portugal apresenta uma relevância crescente no nosso mercado de trabalho. Descubra-a.
A presença de trabalhadores estrangeiros em Portugal tem sido notícia, nas últimas semanas, devido à intenção, manifestada pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, de regularizar a situação de milhares de imigrantes que vivem no nosso país e que apresentaram um pedido formal de legalização entre 2021 e 2022.
Contudo, qual é, de facto, o peso desta população no nosso mercado de trabalho? Afinal, até que ponto o nosso país precisa de acolher esta mão de obra vinda de fora?
A realidade da população estrangeira ativa em Portugal
O esforço na regularização — consoante a Lei dos Estrangeiros, em vigor desde outubro de 2022 — clarificará, certamente, a realidade da população imigrante residente no país. Os dados do Censos de 2021 identificam que os estrangeiros a residir em Portugal representam 5,2% da população, num total de 542.165 pessoas.
Aliás, quando pretendemos delinear o retrato dos trabalhadores estrangeiros em Portugal e perceber o seu relevo no mercado de trabalho, há informações a destacar, nomeadamente:
- O trabalho é a sua principal fonte de rendimento. Com efeito, 48,7% da população de nacionalidade estrangeira estava empregada, segundo o Censos de 2021. Esse valor supera em 6,3 p.p. o obtido na população de nacionalidade portuguesa.
- Entre a população de nacionalidade estrangeira em idade ativa (dos 15 aos 64 anos), 60,5% encontrava-se empregada.
- Os nacionais da Índia e do Nepal registaram os valores mais elevados na proporção de população ativa por nacionalidade estrangeira — 71,0% e 70,9%.
- Dos cerca de 264 mil trabalhadores estrangeiros em Portugal que exerciam uma profissão, a maioria concentrava-se em dois grupos profissionais — “Trabalhadores não qualificados” (25,1%) e “Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores” (23,3%).
- O grupo dos “Trabalhadores não qualificados” é dominado pelos nacionais de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Bissau, Índia e Nepal.
No grupo dos “Especialistas das atividades intelectuais e científicas”, destacam-se, então, os nacionais de Espanha, Reino Unido, Itália e Alemanha.
A importância da regularização dos trabalhadores estrangeiros em Portugal
Desse modo, verifica-se um esforço gradual na tentativa de enquadrar e regularizar trabalhadores estrangeiros em Portugal. Afinal, essa população revela-se cada vez mais imprescindível para o nosso país e para o seu mercado de trabalho. O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, citado pelo Observador, assumiu-o:
“De facto, o nosso país precisa dos cidadãos imigrantes para enfrentarmos o desafio de rejuvenescimento social, da dinamização económica, do fortalecimento da Segurança Social. Em 2022, os imigrantes contribuíram com cerca de 1.500 milhões de euros para a Segurança Social.”
O mercado de trabalho precisa de trabalhadores estrangeiros em Portugal
Sem dúvida, basta estar atento às notícias para perceber que inúmeros setores se queixam de falta de mão de obra.
- Em junho de 2022, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) estimava uma escassez de 45 mil trabalhadores no turismo, dos quais 15 mil faltavam só na hotelaria;
- Dados recolhidos pela Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) revelam que, no segmento das obras públicas, 75% das empresas indicaram a carência de mão de obra especializada como uma das principais dificuldades com que se debatem.
Aspetos que motivam a procura de trabalhadores estrangeiros na Europa
A necessidade de acolher trabalhadores estrangeiros em Portugal não constitui, decerto, um caso único na Europa. Similarmente e de uma forma generalizada, os países da União Europeia enfrentam os mesmos desafios, devido a um conjunto de fatores, a saber:
- Questão demográfica marcada pelo envelhecimento da população, com a consequente diminuição da população ativa;
- Fortes transformações que afetaram o mercado de trabalho, no rescaldo da pandemia de COVID-19, levando muitos trabalhadores a mudar de emprego. Inúmeros procuraram organizações com um propósito e uma identidade com os quais se identificam, capazes de valorizar a conciliação da vida pessoal com a profissional;
- Contexto de guerra na Ucrânia e de inflação, que tem conduzido as empresas a limitarem as condições de contratação, num momento em que o mercado exige novas soluções.
O resultado é claro, de acordo com um artigo da consultora McKinsey: “As empresas não conseguem contratar as pessoas de que precisam e estão a perder os trabalhadores que já tinham, ao mesmo tempo que ficam para trás em áreas como a tecnologia e a inovação, o que afeta a competitividade da região a longo prazo.”
O contexto atual demonstra, assim, que não resta alternativa senão trabalharmos em conjunto para conseguir atrair e acolher trabalhadores estrangeiros em Portugal, garantindo a total legalidade e o completo respeito pelos seus direitos. Para isso, precisamos, certamente, de elaborar um retrato mais fiel da sua realidade, reduzir a burocracia e incrementar a agilidade dos processos de legalização e de contratação de trabalhadores estrangeiros.
Thomas Marra