Onde a Estratégia Encontra as Emoções: A Nova Inteligência da Liderança
Durante décadas, a gestão organizacional operou sob a premissa de que decisões eficazes exigiam neutralidade emocional. A racionalidade era a métrica dominante, enquanto a emoção era frequentemente considerada um ruído a minimizar. No entanto, as organizações de alto desempenho começam a operar com uma nova convicção: a emoção não se opõe à estratégia — é parte integrante dela.
Num mercado marcado pela complexidade, incerteza e rápida transformação, a inteligência emocional (IE) assume-se como uma das competências mais críticas para sustentar culturas saudáveis, equipas resilientes e liderança eficaz. E este reconhecimento não é apenas teórico: está sustentado por dados concretos.
Emoção com impacto Mensurável
Estudos recentes mostram de forma clara a correlação entre inteligência emocional e desempenho profissional. De acordo com o Niagara Institute, a IE é o maior preditor individual de sucesso no local de trabalho, explicando 58% do desempenho em diferentes funções e setores. Entre os colaboradores com melhor performance, 90% registam níveis elevados de IE, em contraste com apenas 20% entre os de desempenho mais baixo.
Mais ainda, esta competência tem impacto direto em remuneração: cada ponto adicional de IE pode representar, em média, mais 1.300 dólares nos Estados Unidos, por ano de salário, segundo o mesmo estudo.

Da competência à Estratégia
Este valor estratégico é cada vez mais reconhecido pelas grandes consultoras e instituições. A PwC identifica a IE como um catalisador direto de crescimento sustentável, rentabilidade, satisfação do cliente e resiliência organizacional. Não se trata, pois, de uma competência “soft”, mas de uma alavanca de valor tangível e mensurável.
Num contexto onde 80% dos colaboradores a nível global continuam pouco ou nada envolvidos nas suas funções (dados Gallup), o papel da liderança ganha centralidade, onde 70% da variação no engagement das equipas é explicada diretamente pela qualidade da gestão, e, neste domínio, a IE torna-se essencial. Equipas emocionalmente mal geridas tendem à desmotivação, ao conflito e à rotatividade — fatores que comprometem tanto a eficiência como a reputação interna.
O Futuro do Trabalho: Flexibilidade e Propósito
As transformações do mundo do trabalho colocam novas exigências sobre as organizações. O Future of Jobs Report do World Economic Forum antecipa que 39% da força de trabalho global precisará de requalificação até 2030, e destaca a ascensão de competências comportamentais como resiliência, gestão do stress, pensamento crítico e autoaprendizagem.
Estas competências, por natureza emocional e adaptativa, não são substituíveis por tecnologia. Ao contrário: são o que permite às pessoas integrar novas ferramentas, colaborar em ambientes híbridos e tomar decisões eficazes sob pressão.
A IE não só apoia estas competências emergentes como as amplifica. Ela fornece o contexto relacional e psicológico necessário para que o talento técnico floresça — seja numa reunião de equipa, num processo de inovação ou numa negociação sensível.

Thomas Marra
Country Manager da Gi Group Portugal