Impacto da inflação em Portugal no mercado de trabalho

A inflação em Portugal atingiu níveis históricos. Como condiciona o mercado de trabalho e o que se perspetiva para o futuro?  

Impacto da inflação em Portugal no mercado de trabalho

Atualmente, o mercado de trabalho atravessa um cenário pouco habitual, em Portugal. Neste quadro, prevê-se um abrandamento da economia, os níveis de emprego permanecem elevados, a taxa de desemprego mantém-se relativamente baixa e a remuneração conserva uma trajetória de subida. Embora estes factos pudessem trazer boas notícias para as empresas e os trabalhadores, pode não ser exatamente assim. Ademais, este cenário tem como base a inflação em Portugal.

O peso da inflação em Portugal no mercado de trabalho

Os efeitos da inflação já se começaram a sentir. Afinal, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que a remuneração bruta média mensal por trabalhador aumentou 4%, no trimestre terminado em setembro. No entanto, nesse mesmo período, a inflação em Portugal — medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC) — foi de 9,1%. Resultado: se, em termos nominais, os salários subiram, na realidade sofreram uma queda de 4,7%.

Considerando a necessidade de recrutamento das empresas e o maior poder negocial dos trabalhadores — sobretudo nos setores em expansão após a pandemia, como o turismo —, era fácil detetar um aumento da pressão sobre as empresas. Portanto, estas tiveram de agir e, consequentemente, proliferam notícias sobre o pagamento de apoios extraordinários para combater os efeitos da inflação e sobre acordos para aumentos salariais, no próximo ano.

Estas atitudes verificaram-se, por exemplo, nas grandes retalhistas do ramo alimentar, como o Continente ou o Pingo Doce, que anunciaram apoios extraordinários de 500 e 350 euros, respetivamente, para alguns trabalhadores. Além disso, também ocorreram nos bancos, como a Caixa Geral de Depósitos ou o BCP.

Já no caso da gigante Autoeuropa, os trabalhadores receberam um prémio de 400 euros, em dezembro, e acordaram um aumento dos salários de 5,2%, em 2023, com um valor mínimo de 80 euros. Estas políticas surgiram não sem antes haver alguma reivindicação.

O próprio governo português anunciou o maior aumento absoluto do salário mínimo de sempre e um apoio extraordinário adicional de 240 euros, para as famílias mais vulneráveis.

Quanto poderão mudar os salários e o poder de compra?

Os portugueses possuem mais dinheiro no bolso, mas será ele suficiente para atravessar os tempos de inflação em Portugal? Apesar de indicarem um abrandamento, as remunerações prometem registar crescimentos assinaláveis, durante o próximo ano. Aliás, o incremento dos salários, bem acima dos seus valores históricos, continuará a impulsionar a inflação, como lembrou Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu. 

Será este um motivo para recearmos uma espiral inflacionista? Os especialistas não consideram que assim seja. Afinal, do outro lado da balança está o aumento das taxas de juro, que tirará dinheiro das carteiras dos portugueses, reduzindo, portanto, o poder de compra e o consumo. 

Thomas Marra

Country Manager
Gi Group Holding

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