Retorno ao escritório: o fim do teletrabalho?

O fim do teletrabalho está próximo? Gigantes como a Amazon parecem indicar que sim. Mas será essa uma boa opção para as empresas?

A pandemia de COVID-19 apresentou fortes repercussões no mundo do trabalho — muitas delas ainda se sentem atualmente. Nesse quadro desafiante, o teletrabalho, que inicialmente surgiu como uma necessidade premente, tornou-se progressivamente uma alternativa aos tradicionais métodos de trabalho.

De facto, é inegável que o teletrabalho ofereceu um conjunto amplo de oportunidades às empresas e aos trabalhadores. Aliás, Nicholas Bloom, economista da Universidade de Stanford, defende mesmo que este regime impulsionou a produtividade e o crescimento económico.

Contudo, certas organizações, como a gigante Amazon, pretendem acabar com o teletrabalho. De acordo com o CEO da gigante tecnológica, Andy Jassy, os trabalhadores administrativos terão de regressar ao escritório, terminando o regime híbrido (de três dias no local de trabalho). Caso contrário, arriscam o despedimento.

Estará, então, a era do trabalho remoto e do home office a chegar ao fim?

Por que motivos há empresas a reverter o regime de teletrabalho?

Os argumentos de defesa do retorno ao escritório incluem tópicos como a necessidade de fortalecer a cultura corporativa, por exemplo. O CEO da Amazon refere, nesse sentido, que só no local de trabalho é que as pessoas conseguem integrar-se no espírito da organização.

Além disso, Jassy afirma que o fim do teletrabalho é essencial para melhorar a comunicação e a colaboração nas equipas, mas não só. Também é importante para reforçar a inovação, a competitividade e a produtividade.

A questão da produtividade é, decerto, uma preocupação cada vez mais incontornável para as empresas. A Amazon alega, por exemplo, que a falta de interação e a dificuldade em assegurar uma gestão eficaz das equipas remotas afetam bastante a eficiência.  

Mas a notícia relativa à obrigação de voltar a um regime 100% presencial não foi bem recebida pelos trabalhadores da Amazon. Aliás, uma sondagem da CNBC revelou que 73% dos funcionários administrativos da empresa procuram, agora, novos empregos.

Claramente, esta decisão do CEO não considerou o bem-estar dos seus trabalhadores, ou, pelo menos, a comunicação falhou. Essa é, afinal, uma componente fulcral da cultura organizacional que o CEO alega defender. 

Os benefícios do teletrabalho

De facto, o economista Nicholas Bloom admite que menos tempo no escritório pode “diminuir a capacidade de aprender, inovar e comunicar dos trabalhadores”.

Porém, o especialista não deixa de realçar os benefícios do teletrabalho, sobretudo para a qualidade de vida dos colaboradores e para o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. 

O teletrabalho consiste numa solução eficaz, por exemplo, para problemas de deslocamento, permitindo encontrar trabalho fora da área geográfica de residência.

Na verdade, esta é, também, uma vantagem competitiva para as empresas. Desta forma, as organizações conseguem aceder a uma talent pool mais alargada, mais diversificada e com um leque mais vasto de competências e valências.

Empresas como a Microsoft e a Google vieram esclarecer que não tencionam seguir o caminho da Amazon. No entanto, deixaram um alerta: o regime de trabalho híbrido vai continuar, mas apenas se a produtividade continuar nos mesmos níveis.

É inegável que a discussão sobre o teletrabalho — seja em regime híbrido ou totalmente remoto — está diretamente correlacionado com a eficiência e a produtividade.

Aliás, é possível que a estrutura da Amazon seja tão complexa que o fim do teletrabalho não seja uma solução. Por isso, antes de tomarem decisões radicais como esta, as empresas devem seguir alguns passos:

  • Refletir na sua estratégia, adotando uma perspetiva de médio e longo prazo;
  • Identificar os casos de sucesso e insucesso do teletrabalho;
  • Implementar estratégias de comunicação claras e ouvir o feedback dos trabalhadores;
  • Promover estratégias de adaptação a diferentes realidades;
  • Reavaliar os modelos de gestão e as ferramentas de colaboração.

Pois bem, o mercado de trabalho não vai voltar ao cenário anterior à pandemia. Tanto as empresas como os trabalhadores continuam a enfrentar a inevitável evolução dos métodos de trabalho. Não devemos, portanto, esquecer o seguinte: devemos sempre procurar um equilíbrio. É possível conseguir aumentar os índices de satisfação dos trabalhadores, sem comprometer a produtividade. 

Rui Rocheta

Rui Rocheta

Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding

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