Primeiro Emprego: Os desafios dos Recém-Licenciados

É inegável: a transição entre a universidade e o mercado de trabalho nunca foi simples. Mas, hoje, a procura pelo primeiro emprego enfrenta obstáculos bastante complexos. Afinal, são muitos os recém-licenciados que encaram o mercado de trabalho com a sensação de que não há espaço para eles.

Além das exigências habituais, como a experiência prévia, estes jovens deparam-se ainda com profundas transformações estruturais nas organizações. Em especial, com a crescente automatização de tarefas e a progressiva extinção de funções de entrada. Na prática, para esta geração, o primeiro emprego tornou-se uma barreira crítica no acesso a uma carreira profissional estruturada.

Os desafios dos jovens licenciados sem experiência

Nos últimos dois anos e meio, a disponibilidade de posições de entrada, ou empregos entry-level, caiu cerca de um terço no mercado britânico. Em setores como os das finanças e dos serviços de IT, as ofertas recuaram mais de 50%, ao passo que empresas como a Deloitte e a EY reduziram os seus programas de contratação de recém-licenciados em 18% e 11%, respetivamente.

Esta tendência decorre, em grande medida, da crescente adoção de sistemas de inteligência artificial (IA), que passaram a replicar tarefas como a introdução e a análise de dados. Ou seja, funções tradicionalmente atribuídas a perfis juniores no seu primeiro emprego.

Com efeito, muitas empresas deixam de sentir necessidade de contratar profissionais sem experiência. Aliás, esta situação acentua o paradoxo do acesso ao primeiro emprego: exige-se experiência a quem procura, precisamente, a oportunidade de a adquirir.

Ao mesmo tempo, perde-se algo menos tangível, mas estruturalmente vital: o chamado “conhecimento tácito”, que se adquire ao observar colegas mais experientes. Esta aprendizagem informal, essencial ao desenvolvimento de soft skills, não se pode transmitir por manuais nem por cursos gerados por IA. Só é possível assimilá-la no contexto real do trabalho, como sublinha o The Washington Post.

Que estratégias equacionar para encontrar o primeiro emprego?

Perante este cenário, o primeiro emprego corre o risco de deixar de ser um verdadeiro ponto de partida. Ainda assim, existem estratégias que os recém-licenciados podem adotar para reforçar as suas hipóteses de entrada no mercado de trabalho.

Uma das prioridades passa, então, por desenvolver competências em IA. Cada vez mais empresas, incluindo grandes sociedades de advogados, avaliam o domínio desta tecnologia logo na fase de entrevistas. De facto, a falta de literacia nesta área representa, hoje e no futuro, uma desvantagem competitiva.

Adicionalmente, os recém-licenciados devem investir no desenvolvimento de competências associadas ao pensamento crítico e à capacidade de adaptação. Afinal, são fatores diferenciadores, particularmente relevantes no acesso ao primeiro emprego, num mercado cada vez mais automatizado e exigente.

Por último, verifica-se uma tendência crescente para o ajustamento de expectativas. Num contexto pautado pela instabilidade e pela transformação incessante, muitos jovens optam por adiar o “emprego de sonho” e aceitar funções que, pelo menos, lhes permitam iniciar o seu percurso profissional.

O papel estratégico do recrutamento e do trabalho temporário

Pois bem, num cenário especialmente adverso para a empregabilidade jovem, as empresas de recrutamento desempenham um papel estratégico, ao facilitar o acesso ao primeiro emprego.

Na Gi Group, defendemos o trabalho temporário como uma porta de entrada qualificada no mercado laboral. Afinal, para muitos jovens esta modalidade constitui uma oportunidade concreta de adquirir experiência e desenvolver competências transversais. Pode, assim, assumir-se como o verdadeiro “pontapé de saída” para a vida profissional dos recém-licenciados.

duas pessoas a falarem

Além disso, estas soluções representam uma via privilegiada para conquistar visibilidade junto de empresas que, de outra forma, dificilmente recrutariam perfis juniores. Através do trabalho temporário, é possível demonstrar valor, ampliar a rede de contactos e abrir caminho a oportunidades de integração efetiva.

Apoiar o primeiro emprego é, sem dúvida, investir no futuro do trabalho. Consiste, antes de mais, numa responsabilidade social das instituições, que têm o dever de criar oportunidades para as novas gerações. Mas representa, igualmente, um investimento na própria sustentabilidade das organizações: uma aposta na inovação, na renovação de competências e na capacidade de responder aos desafios de amanhã.

 

Rui Rocheta

Rui Rocheta

Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding

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