Demografia no mercado de trabalho: o que está a mudar, em Portugal?

O peso da demografia no mercado de trabalho traz novos desafios, sobretudo perante o envelhecimento populacional. O que esperar?

Demografia no mercado de trabalho: o que está a mudar?

Falar de demografia no mercado de trabalho, em Portugal, hoje, implica abordar, incontornavelmente, o envelhecimento da população. Este constitui um dado marcante, especialmente considerando que os portugueses são o povo da União Europeia (UE) que tem envelhecido mais rapidamente.

Em 2021, por cada 100 jovens (entre 0 e 14 anos) existiam 182 idosos (a partir dos 65 anos). Com efeito, este número resulta de uma taxa de crescimento médio anual do índice de envelhecimento de 3,6% , segundo dados divulgados pelo jornal Público.

A acompanhar esta tendência surge, então, a diminuição da população ativa. Entre 2008 e 2021, este recuo foi de 328,8 mil pessoas, em Portugal — a terceira maior redução na Europa, depois da Roménia e da Grécia. Além disso, as projeções não são animadoras.

Segundo um estudo do BPI Research, a faixa etária com mais de 65 anos aumentará, em Portugal, de 2,2 milhões, em 2018, para 2,8 milhões, em 2033, enquanto a população em idade ativa cairá de 6,5 para 5,8 milhões, nesse período. Portanto, a proporção da população com mais de 65 anos em relação à população em idade ativa crescerá, passando a taxa de dependência de 34% para 48,5%.

Tendo isto em conta, a demografia no mercado de trabalho condena-nos, assim, a uma fatalidade?

O futuro do mercado de trabalho

Revela-se, sem dúvida, incontornável o peso do envelhecimento na economia. Em primeiro lugar, porque tem implicações diretas na mão de obra. Contudo, tal como refere o estudo do BPI Research, tudo dependerá da forma como reagiremos, coletivamente, a este fenómeno e aos desafios da demografia no mercado de trabalho.

Encontramos múltiplos caminhos possíveis, por exemplo:

  • As pessoas podem decidir trabalhar mais, “aumentando a sua participação no mercado de trabalho e o número de horas trabalhadas, ou ampliando a sua vida ativa”, já que vivem mais anos com uma melhor saúde, durante mais tempo;
  • Os trabalhadores podem poupar mais, para gozar de uma reforma mais longa;
  • As empresas e os governos podem apostar na formação, aumentando a produtividade do trabalho.

Não se trata, portanto, de uma fatalidade. No entanto, olhando para a demografia no mercado de trabalho, torna-se importante ter também em conta os fluxos migratórios. Continuaremos a assistir, por exemplo, à saída de mão de obra jovem qualificada para trabalhar noutros países? Portugal manter-se-á como um destino atrativo para uma população mais idosa, que procura desfrutar aqui da sua reforma?

Analisando especificamente a emigração, importa notar a saída de um milhão de portugueses do país, na última década, segundo o Relatório da Emigração 2020. Todos estes fatores reforçam, pois, a necessidade de trabalharmos em conjunto, tirando partido do lado positivo da longevidade. Se, por exemplo, o Estado deve regulamentar fatores como a flexibilidade da idade de reforma, às empresas cabe a criatividade de encontrar estratégias para tirar partido de uma mão de obra mais experiente.

Thomas Marra

Country Manager
Gi Group Holding

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