O Trabalho imigrante em Portugal: um copo meio cheio

Com a chegada dos refugiados ucranianos a Portugal, ressurgiu o tema do trabalho imigrante. Quais as vantagens deste fenómeno?

Lisboa, 07/04/22

A chegada dos refugiados ucranianos fez ressurgir o tema do trabalho imigrante em Portugal e da integração de estrangeiros no nosso mercado laboral. Como recebê-los e integrá-los? Como olhar para este fenómeno: um problema que temos de resolver ou um facto que devemos olhar de forma positiva? 

Em primeiro lugar, importa saber de que realidade estamos a falar. Cerca de 27 mil ucranianos pediram certificados de concessão de autorização de residência ao abrigo do regime de proteção temporária. No entanto, apenas 8.500 foram emitidos até ao início de abril, segundo noticiou o jornal Público 

Sem este documento, os cidadãos ucranianos não se podem candidatar a ofertas de emprego nem ter acesso a apoios. Neste universo de pessoas, uma parte são menores, mas percebe-se já que o número aponta para várias centenas de novos trabalhadores a entrar no mercado de trabalho. 

O peso do trabalho imigrante no mercado português

Estes números vão ter um grande impacto? O peso do trabalho imigrante e de estrangeiros no mercado laboral português é relativamente baixo quando comparado com outros países da Europa. Caso, por exemplo, da Irlanda, onde um terço dos trabalhadores vem de fora.  

Olhando para os números, verificamos que as pessoas com nacionalidade estrangeira a trabalhar em Portugal não chegam às 150 mil. De acordo com os dados do inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), depois de um pico de mais de 155 mil em 2019, no primeiro ano da pandemia o número caiu para pouco mais de 148 mil. Num total de mais de 4,8 milhões de pessoas empregadas, este número representa cerca de 3%. 

Os indicadores mostram ainda que estamos perante pessoas jovens e qualificadas. Ainda segundo dados do INE, 40% dos estrangeiros a trabalhar em Portugal têm entre os 15 e os 34 anos. Destes, cerca de 43% têm o ensino secundário e quase 27% têm formação superior. 

As vantagens de integrar o trabalho imigrante

Sabendo da escassez de mão de obra que existe no país nos mais variados setores — desde os mais intensivos (caso da hotelaria, restauração ou construção) aos mais especializados (como saúde e tecnologia) —, o que importa discutir é quais são as vantagens e qual a melhor forma de integrar o trabalho imigrante. 

A prática e os estudos demonstram que a diversidade e a inclusão são fatores determinantes para o envolvimento e a motivação dos colaboradores, para o melhor desempenho e o aumento da produtividade das equipas. Além disso, promovem a inovação ou a aquisição e retenção de talento. Mesmo quando falamos de liderança nas empresas, uma maior diversidade — de género, étnica e cultural — significa melhor desempenho financeiro, como demonstra um estudo da consultora McKinsey. 

No entanto, importa salientar que colher os frutos da diversidade e da inclusão implica necessariamente criar uma verdadeira cultura inclusiva nas organizações. Isso passa por avaliar as práticas existentes, aumentar a diversidade nas equipas de liderança, rever métodos de recrutamento, dar especial atenção a práticas que fomentem a igualdade de oportunidades, entre várias outras medidas. E, quando falamos de trabalho imigrante, por vezes basta pensar em alguns detalhes. Por exemplo, porquê fazer da língua uma barreira, quando falar inglês pode ser um primeiro passo no processo de inclusão?  

Com boas práticas e o envolvimento de todos, a diversidade e a inclusão tornam-nos certamente mais ricos.  

Rui Rocheta, Regional Head of LATAM & Iberia da Gi Group Holding
Share this news

Descubra mais