O que as novas gerações exigem e o que podem aprender com as anteriores

O futuro do trabalho não será construído apenas com inovação e disrupção, mas também com a capacidade de unir estas quatro gerações num mesmo propósito.

O impacto da inteligência artificial nas profissões humanas

Recentemente, Geoffrey Hinton, considerado o “padrinho” da inteligência artificial, foi questionado sobre o conselho que daria às novas gerações para as suas carreiras. A resposta surpreendeu muitos: “train to be a plumber.” Essa provocação vai muito além do literal, é um alerta claro: o futuro do trabalho pertencerá àqueles que trazem presença física, competências práticas e, acima de tudo, interação humana.

O futuro do trabalho será, cada vez mais, um futuro de serviços. Tudo o que pode ser automatizado já está a ser, desde tarefas administrativas até funções altamente qualificadas, como análises jurídicas ou desenho arquitetónico. Mas há algo que a IA não substitui: a empatia de uma conversa terapêutica, o toque de um fisioterapeuta, a proximidade de um cuidador ou a perícia de quem arranja uma fuga de água em plena madrugada.

E aqui surge um paradoxo: enquanto o mundo forma milhares de profissionais em áreas digitais – muitos dos quais poderão ver 90% das suas funções automatizadas nos próximos anos – , há uma escassez crítica de profissões essenciais, desde carpinteiros a eletricistas. A verdade é que num mundo onde a IA se assume cada vez mais dominante, o diferencial continua a ser o toque humano. A interação com o outro, a ideia que surge de uma conversa, o meu propósito e o impacto que tenho na vida daquela pessoa. E isso, cabe-nos a nós.

É muito curioso pensarmos na dinâmica do mercado de trabalho dos dias de hoje, com as quatro gerações a conviver em simultâneo, e cada uma traz consigo uma forma diferente de encarar o trabalho.

Como cada geração contribui para o futuro do trabalho

O mais recente estudo realizado pela Gi Group Holding “The General Equation: can work really change lives?” aborda este tema e identifica claras diferenças. Ainda assim, é de salientar que o cruzamento de experiências é uma oportunidade única de aprendizagem e nenhuma IA vai conseguir acrescentar tanto.

Os baby boomers são os que revelam maior satisfação com o seu trabalho, valorizando sobretudo a estabilidade e o compromisso organizacional. A Geração X destaca-se pela resiliência e pela adaptação a profundas mudanças, tendo vivido a transição do analógico para o digital. Os millennials procuram equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas valorizam também progressão de carreira e reconhecimento. Por sua vez, a Geração Z dá prioridade ao propósito e à flexibilidade: 53% afirmam estar dispostos a trocar estabilidade por liberdade.

Estes dados revelam que, apesar das diferenças, existem competências valiosas em cada geração que não devem ser esquecidas nem subestimadas. Há, portanto, muito que os mais novos podem aprender com os mais velhos. Podem inspirar-se na resiliência e na estabilidade demonstradas ao longo de décadas, desenvolver uma visão de longo prazo e perceber a importância de construir relações duradouras e de assumir compromisso com a organização. Ao mesmo tempo, os mais velhos podem aprender com os mais novos a questionar o status quo, procurar um propósito no trabalho e colocar o bem-estar pessoal no centro da vida profissional.

O futuro do trabalho não será construído apenas com inovação e disrupção, mas também com a capacidade de unir estas quatro gerações num mesmo propósito, tirando o melhor partido das experiências de cada um e de todas as ferramentas que nos tornem mais ágeis e eficientes. Mas o futuro exige também preparação, uma responsabilidade partilhada entre instituições académicas, organizações e profissionais. Deixo três recomendações:

  1. Voltar a introduzir os cursos técnicos nas escolas, como na década de 90;
  2. Apostar em formação prática e em soft skills;
  3. Encarar os cursos superiores como ferramentas complementares, e não como garantias de empregabilidade.

As mudanças são evidentes, e o impacto no mercado de trabalho, e nas pessoas, é inevitável. O essencial é garantir a preparação e antecipar tendências é a chave. Não se trata apenas de formar para o mercado de trabalho, trata-se de formar para alimentar a humanidade.

Raquel Gonçalves

Senior Manager Grafton - Finance, Sales & Marketing Manager

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