Ambição Sem Perder o Propósito

O verdadeiro desafio do crescimento empresarial

A ambição da empresa, se não for estruturada de forma a não pressionar desmesuradamente as equipas, facilmente compromete a produtividade e o bem-estar.

Num cenário empresarial em constante transformação, a ambição de crescimento pode facilmente conduzir à perda de identidade, sentido e propósito se não for acompanhada por uma reflexão consciente. Mas, quando a velocidade do crescimento ultrapassa a maturidade da organização, o risco é evidente: fragmentação cultural, perda de alinhamento interno e uma erosão silenciosa da identidade corporativa.

Segundo a McKinsey, organizações em expansão sem um propósito claro enfrentam, a longo prazo, crises na coesão cultural e na sustentabilidade da empresa. O risco é real: metas financeiras emergem em detrimento da visão comum, levando a uma desconexão interna e a um desgaste -emocional das equipas. Aliás, vários estudos mostram que empresas focadas apenas no crescimento financeiro registam níveis de rotatividade até 48 % superiores à média. Este ciclo desgasta a cultura interna. A título de exemplo, o “Employee Sentiment Study 2025” da Aon revela que 46% dos colaboradores nacionais está à procura de novas oportunidades profissionais ou considera mudar de emprego nos próximos 12 meses.

A ambição da empresa, se não for estruturada de forma a não pressionar desmesuradamente as equipas, facilmente compromete a produtividade e o bem-estar, e prejudica a sustentabilidade do próprio crescimento. Por isso, para garantir um desenvolvimento sustentável, torna-se fundamental que as organizações articulem ambição com responsabilidade, sem abdicar da sua direção estratégica.

Esse equilíbrio começa por uma redefinição clara de propósito. Integrar o crescimento com uma missão social e humana não só alinha equipas em torno de um significado partilhado, como reforça a coesão interna e o foco coletivo. Em paralelo, importa cultivar uma cultura organizacional forte, já que dados revelam que empresas com culturas saudáveis crescem entre 1,5 a 2,5 vezes mais em receita e valorização de mercado.

A par disso, a saúde mental dos colaboradores deve ser encarada como um ativo de gestão e não como um tema periférico. Promover equilíbrio, flexibilidade e apoio emocional permite mitigar riscos como o burnout e reforçar a motivação e o compromisso. A retenção de talento, por sua vez, exige investimento contínuo em reconhecimento, progressão, formação e liderança empática — fatores que têm impacto direto na redução do turnover e no desempenho sustentado das equipas.

Este o paradoxo do progresso desafia as empresas a crescer com responsabilidade, sem perder o seu rumo. Crescimento sustentável não é o oposto de crescimento rápido — é crescimento com sentido, resiliência e humanidade. E alinhar ambição com responsabilidade é o caminho para prosperar com valor – para dentro e para fora.

foto thomas artigos

Thomas Marra

Country Manager da Gi Group Portugal

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